Loura, moderninha, repaginada. Wanessa Camargo segue na mesma luta para deixar de ser somente a filha do sertanejo Zezé di Camargo, decolar a carreira de cantora e convencer o público de sua identidade, agora pop. Aos 26 anos, lançou Meu Momento, o sétimo álbum dos nove anos de sua inconstante carreira, e emplacou nas rádios o hit em inglês Fly, parceria com o rapper Ja Rule - arma de marketing de sua fada madrinha musical, o maridão e diretor artístico Marcus Buaiz, famoso empresário da noite. Na missão de se firmar no novo universo, Wanessa descarta o sobrenome Camargo, dá a cara a tapa e sente culpa por ter se deslumbrado com a fama, que a segue desde criança. Sobre casamento, família, passado, a cantora falou ao JT na sexta-feira, no camarim da TV Globo, onde gravou o Altas Horas.
Como foi ver a música ‘Fly’ fazendo sucesso quando tanta gente nem sabia que era sua?
Querendo ou não, eu vinha em um caminho diferente desse CD novo. Existe o preconceito das pessoas: ‘Ah é Wanessa Camargo’ (ela faz uma careta), sabe? Tem o sertanejo que puxa um pouco, então o mundo pop tem um olho torto. Isso foi um teste cego. E foi sem querer, não foi proposital. Até gente que estava comigo no projeto não sabia. É bacana, porque as pessoas primeiro gostam, depois julgam. Isso é que é legal. Daí não tem a história atrás, não existem meus nove anos de carreira junto. A música fala primeiro.
Hoje, ser filha de Zezé di Camargo ajuda ou atrapalha?
Hoje atrapalha. Porque as pessoas tendem a associar uma coisa com a outra, elas não separam (o celular de Wanessa toca. Ela faz uma pausa para atender ‘rapidinho’: ‘Oi amor’). Tudo bem, é pai e filha, mas um tem um trabalho, e o outro tem outro, diferentes.
Foi isso que a motivou a tirar o Camargo do nome?
Só para deixar isso bem claro. A separação é musical, não de vida. Da família, do meu pai, da história dele. E também simplifica. Acho bacana as pessoas chamarem por um nome, como funciona lá fora. O intuito é separar. Me sinto honrada de ser da família Camargo, mas isso não define quem eu sou. Muito menos a minha música.
Isso extrapolou o âmbito musical alguma vez, já causou algum mal-estar com seus pais?
Nunca. Não tem isso na minha família. Meus pais sempre foram os primeiros a torcer para que eu desse certo, para que acontecesse. Eu não tirei o Camargo do meu nome. Vou ser pra sempre Wanessa Godói Camargo-Buaiz, agora casada, minha identidade. Mas artisticamente, não.
Então seu pai se dá bem com o Marcus Buaiz, seu marido?
Eles se dão muito bem. São como pai e filho. Os dois são (do signo) de leão, muito parecidos, sabe? Os pais do Marcus moram longe - a mãe mora no Rio de Janeiro, o pai no Espírito Santo - então a família com quem ele tem mais convivência é a minha família. O que acontece é que querem achar piolho onde não tem.
O Marcus é o diretor artístico do CD ‘Meu Momento’. E o casamento musical, como funciona?
Meu CD não fiz sozinha, sabe? Esse CD a gente fez 50-50. Há todo um time de profissionais comigo. Eu não me considero uma cantora-solo. O Marcus tem um know-how de mercado que eu não tenho, essencial pra um artista dar certo. Eu acho que não basta só a música ser legal e cantar bem, tem que ter um monte de coisas ligadas pra dar certo na música.
A parceria começou com vocês já juntos. Como foi?
O Marcus mal sabia que eu cantava. Não conhecia minha carreira. Fomos conversando sobre o que eu tinha vontade de fazer, a dificuldade que era vencer algumas barreiras, o preconceito, pra ter espaço. Ele abraçou aquilo como um sonho dele também. Aí a gente decidiu oficializar, ser sócios, uma parceria comercial mesmo. Ele me ensinou a ter confiança no palco, a acreditar e realmente dar a cara a bater. Eu sempre fui corajosa, mas o Marcus é mais. Estou aprendendo com ele.
Você sofre muito preconceito?
Julgamento pra qualquer pessoa é difícil quando não é sincero, baseado em quem não te conhece. Não tenho problema nenhum com quem não gosta da minha música. É natural, não é pra todo mundo. Sei que tem gente que vai odiar a minha voz, minha música, não tenho problema nenhum com isso. O problema é quando julgam o caráter, põem em dúvida a sua luta. Mas aí tem que entrar por aqui e sair por ali (aponta os ouvidos).
Marcus também interfere no visual? Diz coisas do tipo: ‘Vamos aumentar essa saia’?
Uh, pelo contrário! Marcus não liga. Quando tenho dúvida ele é quem diz: ‘Não tá mostrando nada, fica tranquila’. Eu que fico puxando (a saia), sou muito mais ‘noiada’ do que ele em relação a como vou me apresentar. Ele me relaxa: ‘Tá bonito, não tem nada, não.’ No VMB (Video Music Brasil, onde Wanessa exibiu um microvestido brilhante) eu estava muito mais ‘noiada’ com o vestido do que ele. Disse: ‘Ai, não tá curto?’ Ele olhou: ‘Ah, tá lindo’.
Quem é o ciumento do casal?
Quem é o ciumento do casal?
Ah, eu! Ele trabalha na noite, com balada (Buaiz é dono dos clubes noturnos Royal e Lótus, em São Paulo), eu sei que tem muita mulher dando sopa. Mulher é danada, cara! Homem respeita mais mulher casada. Quer dizer, eu sinto isso. Mulher parece que gosta de homem casado, é impressionante. Ela não gosta do homem que está sozinho, solteiro. Não, ela quer aquele lá. Não todas, claro, tem uma leva de mulheres que atiçam. Então eu fico de olho.
Mas você é barraqueira?
Não sou, não sou neurótica. Não dou show, piti, em nenhum lugar. Aí é que está: eu tenho que prestar atenção no que ele faz. Eu me irrito muito com os outros, com as mulheres, mas ele, graças a Deus, nunca me deu motivo pra falar um ‘ai’. Eu não falo, tento não demonstrar. Tento ser elegante... Em geral, sou mais de guardar, não sou de ficar demonstrando muito, não. E demoro para confiar em gente que não conheço.
E os novos amigos?
O Marcus está sempre rodeado de gente interessante, como o jogador Ronaldo, o modelo Jesus Luz...Ah, normal, né? Veio, claro, uma turma de amigos dele pro meu mundo. Pra mim é só mais um amigo que tem uma profissão pública. Não tenho interesse.Já estou acostumada, cresci nesse meio. Tinha oito anos quando meu pai começou a fazer sucesso. Quando era pequenininha eu me deslumbrava com a Xuxa, pedia pra ver o Didi. Mas você vai vendo que é tudo igual, muito comum.
Desse novo círculo de amizades, alguma a surpreendeu?
Tem um mundo de empresários dele que eu achava: ‘ah são um nojo, esnobes, mauricinhos’. Bobagem. A gente julga demais. Aprendi a não julgar. Já mordi muito a língua por pensar algo de alguém e depois me arrepender.
Acha que julgam muito você?
Sou muito julgada. Eu vejo quantas vezes as pessoas têm uma ideia completamente errada de mim. Porque me viu 10 segundos na televisão acha que sabe tudo de mim. Ou porque viu uma declaração minha que não era exatamente daquele jeito. Aí já tem uma lista do que você é. Então, você olha e pensa: ‘Mas eu não me vejo assim, não sou assim’.
Você pensou em parar?
Tem horas em que você fica p da vida, mas aí dá aquela chorada básica, respira, repensa. Tem que saber lidar com altos e baixos. Pode arrebentar a boca do balão num álbum e, no próximo, sei lá por que, não funciona. Tem que ter cabeça boa pra não pirar. Eu aprendi a ouvir em vez de ficar na defensiva toda vez que vinha porrada. Num primeiro momento, se alguém critica, você já vai e pá (soca um pulso no outro) na defensiva, dando mil desculpas. Constrói um discurso para não se diminuir. É muito difícil ouvir: ‘Ah, seu show foi uma porcaria’. Mas tem que parar e pensar: ‘Por que disseram isso? É verdade?’ Pode ser. O cara pode não ter gostado e pronto. Mas pode ser que tivesse razão. Tudo isso é aprendizado.
Tem coisas no passado que você teria feito diferente?
Claro que tem coisas que eu penso: ‘Ah, que bobagem que eu falei’, ou ‘que roupa horrorosa que eu usei’, ‘que apresentação tosca’. A vida é assim, a gente só aprende errando. Eu acredito em destino, acredito que para que eu me tornasse o que sou, tudo isso teve de acontecer. O bom e o ruim, meus erros, meus começos... sou uma aprendiz. O importante é pensar em melhorar.
E por que você acha que tem demorado tanto para dar certo? Acha que a fama veio cedo demais e atrapalhou?
Sou completamente culpada pela minha vida. Eu não tinha maturidade, não fui capaz de lidar com aquilo. Eu não tenho desculpa pra tudo. Idade? Vejo muitas meninas de 13, 14 anos que estão batalhando na vida, se esforçam, têm cabeça boa. A minha prioridade em certos momentos foi trocada por uma diversão de adolescente. Hoje vejo o quanto perdi tempo com baboseira, ego, vaidade, e como a gente se deslumbra com coisas bobas, ilusões que criam pra gente.
Você diz que seu novo visual acompanha sua música. Se ele mudar, muda a música?
Não nasci pra ficar de um jeito só a vida inteira. Adoro me olhar no espelho e ver uma outra mulher. Esse caminho em que estou hoje é por onde vou seguir, nesse nicho. É a partir daí que vou brincar.
Fonte: Jornal da Tarde
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